Os soldados nem sempre condecorados: Saudemos a enfermagem!
Os soldados nem sempre condecorados: Saudemos a enfermagem!
Muitas demonstrações de carinho, admiração e respeito com os profissionais de saúde como um todo tem sido prestadas pela população brasileira durante essa pandemia que vivemos. Enquanto farmacêutica sinto-me lisonjeada e honrada com tantas mensagens de reconhecimento, merecemos sim. Mas neste texto quero relatar o dia-a-dia de uma classe específica, que muitas vezes passa despercebida, mas que é fundamental do início ao final do processo de cura, estou falando da enfermagem.
Agora a população tem se atentado sobre como é difícil para um profissional sair do trabalho e chegar em casa com receio de levar um vírus, uma bactéria para seu lar, mas essa é somente uma das preocupações que os enfermeiros têm.
A grande maioria trabalha em plantões de 6 a 12 horas, muitos precisam de dois empregos ou até três para conseguirem um salário digno, o que faz com que essa carga horária seja dobrada. A crise que muitos hospitais passam faz com que muitas das vezes faltem folguistas ou feristas, obrigando esses profissionais a ultrapassarem os limites preconizados sendo que as equipes trabalham sempre no mínimo de profissionais (questão de custos), aí é só o começo da verdadeira batalha.
Os enfermeiros devem dar o primeiro atendimento, fazendo triagem, ali lhes é necessário um amplo conhecimento para identificar a gravidade com que o paciente chega a um pronto socorro, esse tempo e essa percepção já podem custar uma vida. Depois eles têm que providenciar que os médicos atendam o mais rápido, dentro de protocolos (são diversos protocolos a serem seguidos) e logo após a consulta precisam providenciar medicação, curativos, encaminhamento para exames e cuidarem de todo o amparo necessário. Imagine numa epidemia ou após um acidente com poli traumatizados o tamanho da responsabilidade e o quanto se exige de atenção e concentração para que os pacientes possam se recuperar bem? Imaginem os instrumentadores nos centros cirúrgicos?
Mas nem sempre existem curativos, medicamentos, materiais ou até mesmo espaços adequados para isso, imaginem o quanto falta de espaços adequados para um descanso digno ou mesmo para as refeições desses profissionais?
Ah, mas tem os enfermeiros que trabalham na atenção básica, nos chamados postinhos, tem aqueles que fazem home-care e muitos que trabalham em outras atividades dentro da área de saúde, deve ser mais “tranquilo”. Ledo engano, a prevenção e promoção da saúde exigem uma atuação comunitária que requer muito mais do que o conhecimento técnico, pois nem todos procuram assistência enquanto há tempo, cabe ao profissional de enfermagem ser muito cauteloso e didático para vencer as barreiras diárias impostas por uma cultura de autocuidado.
E falando em cultura, 85% dos profissionais de enfermagem são mulheres, enquanto a grande maioria dos “chefes” dos serviços de saúde são homens, normalmente médicos, aqui temos uma relação de autoridade que muitas vezes cai na cultura machista onde a própria população entende que o espaço da mulher é servir ao homem e faz com que uma classe profissional seja sujeitada a abusos de toda ordem.
Mas enfim, vamos falar de coisa boa, o título deste texto fala em soldados pois de fato os enfermeiros são guerreiros na frente de batalha de uma guerra que é permanente, não apenas em tempos de pandemia, mas todos os dias esse profissionais saem de suas casas, deixam suas famílias apreensivas pois não sabem que tipo de inimigo enfrentarão, se um novo vírus, uma nova doença, uma nova crise de abastecimento, um novo chefe abusivo ou até uma comunidade carente de quem a defenda, e seu papel diário é fazer com que alguém chegue em sua casa melhor do que saiu. E esse cuidado é o que fortalece nossa sociedade e nos mantem saudáveis para virar qualquer jogo adverso. Portanto, uma salva para nosso exército de branco!
Autoria: Yula Merola – Farmacêutica-Bioquímica e Doutora em Ciências. Docente da Faculdade Pitágoras, Coordenadora da Assistência Farmacêutica de Poços de Caldas-MG e Empreendedora Cívica da RAPS, aluna RenovaBR. Pré candidata a Prefeitura de Poços de Caldas.