Investimento em Atenção Primária ou construção de Hospitais? O que falta para o SUS funcionar direito?
O SUS (Sistema Único de Saúde) é o maior sistema de saúde público e gratuito, oferecendo atendimento para mais de 100 milhões de brasileiros. Porém, vários fatores e problemas fazem com que o sistema não seja tão eficaz quanto poderia ser.
E os desafios são inúmeros. Estes desafios não são novidades para ninguém: demora no atendimento, à falta de profissionais, medicamentos, entre outros que se for elencar aqui não teria espaço. Ao tentar agendar consultas, por exemplo, não é raro que o paciente se desgaste, tendo de aguardar por longos períodos. Além dos problemas que afetam diretamente a atenção básica e o pronto-socorro, o sistema enfrenta agravantes ligados à GESTÃO e à assistência nas unidades.
E qual seria a solução? Começou novamente o debate na cidade da reativação ou readequação do Hospital Municipal da Zona Leste. Acredito que muitos não irão lembrar, mas o projeto original deste local era um Hospital Materno Infantil, mas como não há continuidade de Politicas Publicas neste país, mudou a sua concepção e tornou um centro de especialidade. Neste interim o Executivo alugou um prédio para comportar o Centro da Mulher. Mais gastos do dinheiro público e nada de resolver os desafios do SUS.
Mas a construção de Hospitais de pequeno porte seria a solução para as enormes filas nos Hospitais e centro de especialidades. A resposta é NÂO.
Existem vários estudos de Universidades, que indicam que a construção de Hospitais de pequeno porte não é adequada à organização do sistema, ao volume e aos critérios de financiamento para sua sustentabilidade. De acordo com a lógica da escala de produção e escopo, sugerem que o porte ideal para hospitais seria de 100 a 450 leitos.
Então porque os “Políticos” defendem esta tese de construção de hospitais municipais? Simples. Independentemente da relação custo-benefício produzida pelos hospitais, tem que manter a satisfação dos usuários, com médicos disponíveis nestas instituições por 24 horas e tornarem meros encaminhadores de pacientes para hospitais de referência.
Então o que seria ideal?
Cerca de 85% dos problemas de saúde podem ser resolvidos sem a necessidade de ir a um serviço de emergência ou pronto-socorro. O dado, do Ministério da Saúde, aponta que as unidades básicas de saúde, ou centros de saúde, como ainda são chamadas, são capazes de dar solução à maioria casos. E ainda melhorar as estruturas e investimentos nos Hospitais acima de 100 leitos.
Mas, na prática, a população ainda procura, primeiro, a emergência hospitalar. Não há dados publicados no portal da Transferência daqui de Poços de Caldas que atestem essa realidade, mas várias pesquisas nacionais mostram que cerca de 80% dos pacientes que buscam um pronto-socorro são classificados como verde e azul, ou seja, sem gravidade.
Mas porque é tão difícil para a população ter acesso a médicos e cirurgias?
Vamos te contar. O acesso aos serviços da média complexidade, esta condicionado ao encaminhamento dos usuários por uma UBS. Dessa forma, a SMS transformou burocraticamente a UBS na porta de entrada do SUS no município. Essa medida tem, pelo menos, duas repercussões importantes.
A primeira, dificultar o acesso de pacientes que, de fato, necessitavam de serviços especializados. E a segunda, de disputar e ocupar as poucas vagas disponíveis para consultas médicas das UBSs, com procedimentos meramente burocráticos, de “trocas de guia” de encaminhamentos.
E como resolvemos o problema? Simples com a informatização dos serviços de saúde é a principal estratégia para organizar o fluxo do acesso para a média complexidade no município. Outro aspecto importante a ser destacado refere-se à lógica de distribuição das vagas. As vagas são distribuídas por meio de cotas para as UBSs, a partir de um “estoque”
Isto desconsidera completamente o usuário. O agendamento é realizado burocraticamente para dia, hora e local disponibilizados pelo sistema, sem qualquer diálogo com as necessidades e possibilidades dos principais interessados. Essa situação contribuí para aumentar ainda mais o número de usuários faltosos e, por consequência, a ociosidade relativa dos serviços especializados. Há um desperdício de um número grande de consultas.
O que precisa então? É preciso ampliar a capacidade de diálogo do SUS com a sociedade, reconhecendo as falhas e apresentando propostas reais de mudanças. Mas isso não pode ser feito apenas como peça de marketing. A construção dessa legitimidade leva tempo e depende de uma reação efetiva do sistema em busca de mais qualidade e transparência.
Dra Yula de Lima Merola: Pesquisadora de Pós Doutorado da Unifal e Especialista em Gestão e Liderança Pública