Servidor público o culpado de tudo: Conheça o outro lado da História e a polêmica do recesso de Carnaval

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Servidor público o culpado de tudo: Conheça o outro lado da História e a polêmica do recesso de Carnaval

Servidor público o culpado de tudo: Conheça o outro lado da História e a polêmica do recesso de Carnaval

Semana passada em Poços de Caldas foi debatido, se era justo ou não a solicitação dos servidores públicos municipais da saúde de ter o recesso de carnaval. Os motivos da solicitação foram: A educação teria o recesso e muitos servidores da saúde  tem filhos pequenos e não contam com rede de apoio e necessitam do setor de educação em pleno funcionamento para que possam trabalhar e manter o menor em segurança e o outro motivo que os serviços de saúde foram muito requisitados nos últimos dois anos: trabalho exaustivo, salas de vacina cheias, servidores adoecidos, carga horária estafante, testagens, busca ativa de clientela sintomática, demanda crescente (novos casos, agravos de saúde), franca exposição a patógenos e Burnout.   

Todos nós sabemos que o Brasil passa por momentos de dificuldade em vários setores, todos sentem a realidade da economia que há dois anos vem se retraindo gradativamente. Diante deste cenário, que ao mesmo tempo é engraçado e irônico, que para combater o cenário sombrio que se instalou, aliada a insatisfação popular, foi instalado um verdadeiro movimento de CAÇA ÀS BRUXAS aos servidores públicos. Isto é: “tais funcionários são titulares de muitas regalias, privilégios, logo, vamos acabar com todos eles”. Não merecem recesso.

Então fui atrás de Projetos de Leis sobre a pauta “estabilidade servidor público” e me surpreendi com milhares de projetos, que suprimem, restringe, ou mesmo acabam, com vários direitos. A pergunta que fica. Mas porque o servidor público tem estabilidade? Simples! Justamente para compensar o atrito político que existe em cada esfera de Poder. É uma garantia do servidor, para poder exercer sua função, sem conchavos, acordos e tem condições de denunciar desvios de condutas sem medo de perder o emprego.

Acredito que muitos não sabem a realidade das repartições públicas. Em muitos casos (infelizmente passei perto de tais situações), conflitos pessoais se sobrepõem à qualidade do serviço. O mais engraçado que ninguém debate a quantidade de cargos comissionados nos órgãos públicos sem capacitação ou mesmo sem habilidade e competências para cargo. Logo, as responsabilidades pelos erros do Estado são dos Agentes Políticos. NÃO DO SERVIDOR CONCURSADO! Boa parte dos ocupantes a cargos de direção ocupam mandatos, por loteamento e apadrinhamento.

Não se vê por parte do Parlamento, nenhuma intenção de modificar a estrutura dos cargos de livre nomeação (COMISSIONADOS), do art. 37V, da Constituição Federal, afinal, são publicamente tidos como cabides de emprego, e uma moeda de troca valiosa

Outro ponto que gostaria de debater aqui, é a qualidade do serviço público, muitos dizem que é CULPA DO SERVIDOR. É preciso se desconstruir esta falácia que atribui responsabilidade da má qualidade aos servidores. Mas, se a culpa não é do servidor, ela é de quem então?

Antes de mais nada, é preciso entender que o serviço público engloba diversos meios e envolvidos, nos diferentes processos. Uma das causas da má qualidade do serviço são as péssimas condições de trabalho, sem computador, sem papel higiênico, papel sulfite e local insalubre. Eu pergunto a você: Nessas condições, você se sentiria confortável para prestar um serviço de qualidade? Como você se sentiria nessa situação, podendo haver pressão por parte de superiores? E vale ressaltar que a área de Saúde é ainda mais pressionada, onde a população observa a baixa qualidade do serviço. Contudo, não se deve atribuir culpa exclusiva aos servidores.

As condições de trabalho são precárias, porque o Estado não investe em tecnologias avançadas, há uma péssima gestão de recursos materiais, patrimoniais e humanos, o que se associa aos baixos salários praticados, que minam a motivação dos servidores que precisam atender milhares de pessoas sem condições estruturais mínimas.

Mas mesmo com tudo isto, e com salários baixos, só para informar, a maioria do servidor público não recebe mais de 3 salários mínimos, muitos servidores tiram dinheiro do bolso para comprar materiais de trabalho. Outro grande problema pela má qualidade do serviço público é a descontinuidade da gestão e caráter político

O funcionário público tem a imagem de vilão, de responsável por tudo de ruim que o nosso país viveu, e infelizmente, é fácil para uma parte da classe política atribuir essa culpa para alguém que prestou um concurso, do que tomar para si a responsabilidade que, de ofício, é sua

Por fim, o significado da palavra servidor, que do latim significa Servitore, remetendo-se ao verbo servir e que evoca a nação ainda mais sobre a função pública, o servir, de fato.

Dra Yula de Lima Merola: Pesquisadora de Pós Doutorado da Unifal e Especialista em Gestão e Liderança Pública

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