Os desafios ambientais para uma nova agenda urbana
Os desafios ambientais para uma nova agenda urbana
Recentemente estive na rua José Amaral, uma via de terra localizada na região central de Poços de Caldas. Sua pavimentação, em andamento, é uma reivindicação antiga dos seus moradores. Antigamente, nesse local, havia um córrego. Com o tempo, casas e prédios foram construídos ao redor e o córrego canalizado. Por questões de segurança, acabou sendo também coberto. Antes da atual intervenção, uma obra para resolver o rompimento de tubulação havia ocorrido em 2002.
Mas qual o motivo de estar aqui falando deste assunto? É porque precisamos de respostas sobre os impactos dessa obra ao meio ambiente. Será que os órgãos ambientais estão acompanhando?
Concordo com a necessidade de pavimentar a rua, mas essa intervenção precisa ser feita com critério e planejamento, pois estamos falando de um local onde um córrego foi coberto. Caso não sejam feitas as obras de acordo com as normas ambientais, podemos ver novamente os acontecimentos de janeiro de 2016, quando uma tempestade inundou ruas do Centro e causou prejuízos incalculáveis.
A redução de água em nossos reservatórios para abastecimento da população é outro impacto de uma obra sem planejamento ambiental. A recarga dos aquíferos do Planalto de Poços de Caldas ocorre por infiltração direta nas fraturas e isso ocorre principalmente na Serra de São Domingos e nos vales dos ribeirões da Serra e do córrego Vai e Volta. Os rios podem estar escondidos sob construções, mas continuam existindo. E se não cuidarmos das nossas águas agora, sentiremos ainda mais sua falta em 2030, ano que está logo aí, e teremos cada vez mais enchentes.
De acordo com o geógrafo Luiz de Campos Junior e com o arquiteto e urbanista José Bueno, enquanto as cidades brasileiras insistirem em soluções que perpetuem as estruturas e que canalizam e tampam córregos e ribeirões, o progresso em relação aos problemas trazidos pelas chuvas será limitado.
Sabemos que é um caminho com poucas alternativas, mas é essencial a existência de trabalhos voltados para a melhoria de sua eficiência, encontrando tecnologias aplicáveis para que o impacto ambiental seja reduzido e a qualidade de vida seja beneficiada. Existem estudos sobre pavimentação urbana e mobilidade sustentável que podem dar subsídios para que a tomada de decisão dos poderes público ou privado seja mais segura quando abordadas as questões que envolvem o desenvolvimento sustentável. Está na hora de sairmos da caixinha. O mundo mudou. Está na hora de Poços de Caldas se tornar uma cidade modelo.
Quero agradecer ao Rafael Henrique e ao seu site Resgatando a Cidades, onde obtive as informações para escrever este artigo.
Yula Merola é farmacêutica, professora universitária e gestora pública da Prefeitura de Poços de Caldas (MG). Pesquisadora de pós-doutorado pela Unifal, doutora pela Unicamp, especialização em Farmácia Clínica e Gestão Ambiental.